Thursday, September 24, 2009

E agora José?!

Para quem não sabe, ou já se esqueceu... eu trabalho com crianças de 3-5 anos de idade. Para mim, a fase mais engraçada e divertida do desenvolvimento infantil. Elas aparentam ser inocentes... mas inocência nesse período passa longe. De fato, ainda não conhecem muito do mundo... estão aprendendo, desenvolvendo... mas elas são sagazes... e precisam ser, se é que querem interagir com o mundo ao redor de forma eficaz . São cheias de desejos, vontades, temperamento, personalidade e pra ser bem sincera... elas são bem manipuladoras. Mas acho que é isso que mais amo nessa fase... é o total elemento surpresa. Tão pequeninos, tão lindinhos... tão inocentes... e Tchan tchan tchan tchannnnnnnnnnnnn.... “não acredito que vc acabou de jogar um livro em fulano” ... “mas... ele disse que queria ler”.
Além do fato de simplesmente amar essa fase... ainda tenho um ponto fraco por criança difícil, os que estão dentro da sala de aula pra tocar terror. Os que são dissimulados, os que conseguem se safar num argumento, os que perguntam sem medo de errar e respondem sem medo de ofender. Tenho um ponto fraco justamente pelas crianças que os professores mandam pra coordenação, q vivem de castigo, que outras crianças adoram ter por perto, mas que preferem se manter um pouco longe pra não levar uma bronca junto.
Enfim... em toda creche que visito e trabalho encontro essa criança, pelo menos 1 delas. E sei logo quem ela é pq assim que entro na sala de aula... ela está sendo disciplinada ou está aprontando. Essa semana não foi diferente. Fui visitar uma das creches que trabalhamos, e como o semestre letivo acabou de começar... tinha muitas crianças que eu não conhecia. Mas... assim que entro na sala de aula, José (o dito cujo) estava sendo chamado a atenção por estar andando pela sala de aula com uma tesoura na mão, cortando todos os papéis em vista (ele acabou de completar 4 anos). A professora briga, reclama... tira a tesoura e fala pra ele procurar outra atividade.
Mas vocês pensam q ele pára? Ele devolve a tesoura, e se acalma o suficiente, até que a professora mude o foco dela pra outra criança. Assim q o foco muda, José pega a tesoura de novo, e agora anda pela sala com ela escondida… parando atrás de móveis para cortar os papéis. Óbvio que eu tô vendo tudo… e os papéis não me importam tanto qto ele estar andando com a tesoura. Peço pra ele a tesoura, ele me entrega, e sai serelepe pela sala, atrás de outra atividade.
Depois do ocorrido, sentei um pouco pra brincar com umas crianças. Adulto novo em sala de aula tem o efeito de agregar e causar caos. Eu tive esse efeito. Assim que sentei no chão, quase todas as crianças vieram para onde eu estava sentada… e começaram a empilhar em cima de mim. Eu estava sentada no chão… Logo, tinha gente sentada do lado, me abraçando por trás, crianças em pé querendo conversar comigo, me pedindo pra dar laço no sapato… etc. De longe, em meio ao caos, vejo José, caminhando em minha direção… Uma menininha estava sentada no meu colo, numa perna… ele veio e se jogou na outra. Doeu.
Eu não tinha espaço. Duas crianças no meu colo… outras do meu lado, umas conversando… o tempo passa… e começo a perceber que José agora se encontra no meio do meu colo. A outra menininha, ainda sentada quietinha na minha perna… e ele agora bem no meio. Passa mais um tempo… e percebo q ele vira de costas pra ela… e como quem não quer nada… se reclina pra trás… meio que empurrando a menininha. Ela resiste… Ele coloca mais força… Ela resiste… Ele coloca mais força. Ela cai da minha perna… e ele, “o vitorioso”… se esparrama no meu colo… deitado. Ela se levanta… magoada… olha pra mim e fala: “mas eu estava aí primeiro!”
Aprendi, depois de anos dentro de crèches, q não se aparta briga ou se resolve uma discussão até que ela seja detectada por uma das crianças. Já que ela percebeu e reclamou… eu tive que agir.
“José, não é legal empurrar os amigos”…
Ele: “mas eu não empurrei.”
Eu: “vc empurrou… ela caiu da minha perna.”
Ele: “Mas eu não empurrei… eu estava só sentado. Eu não usei as minhas mãos.”
Eu: “Vc pode não ter empurrado com as suas mãos… mas vc empurrou com as suas costas, e ela não gostou.”
Ele se levantou, veio meu lado… e falou baixinho… “vc vai me colocar de castigo?”
Eu fiquei bem séria (apesar de estar sorrindo pro dentro) e falei: “não... eu não quero e não vou te colocar de castigo... mas eu acho q a gente poderia dividir o meu colo... Tem dois lugares pra vocês sentarem... você pode sentar em um, ela pode sentar no outro, ok?”
Pensei eu q minha solução tinha sido a mais óbvia e agradável, até que vejo José confuso... triste... e um pouco nervoso... Ainda em pé do meu lado... olhando pro meu colo como quem quer sentar mas não pode.
“qual o problema?”
Ele responde... meio agoniado... “ Você falou q tem dois lugares... MAS EU NÃO SEI ONDE ELES SÃO!!!”
Eu comecei a rir... “não sabe?... bom, um senta desse lado (mostrei minha perna esquerda) e o outro senta desse lado (mostrei minha perna direita).”
Ele se acalma... novamente se joga na minha perna (novamente doeu), vira pra mim e novamente pergunta em descrença... “vc não vai me colocar de castigo?”
Eu respondo: “hj nao...”
O dia acaba... de fato, eu não o coloquei de castigo... mas a professora o colocou de castigo... 2 vezes.

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